sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Autoestima e HIV: além do estigma

A autoestima tem sido considerada um fator chave para o bem-estar psicológico e para a saúde. No entanto, existem certos grupos que, por uma determinada condição, são estigmatizados, rejeitados e deslocados, o que afeta negativamente a autoestima dos seus integrantes. É o que acontece – embora cada vez menos – com a autoestima das pessoas com HIV. Convido você a refletir: você se sentiria confortável trabalhando com uma pessoa com HIV? Ou se o seu filho ou filha tivesse que dividir uma sala de aula com uma criança com HIV?

Conhecendo a doença, é mais do que provável que essas questões não te preocupem. No entanto, os resultados de pesquisas recentes indicam que mais da metade da população estaria disposta a mudar de emprego ou trocar seu filho da escola pelo motivo acima mencionado.

Quais efeitos o estigma e o preconceito podem ter na autoestima das pessoas com HIV? A autoestima pode prevenir comportamentos de risco relacionados ao HIV? Vamos ver mais sobre o assunto.

Mulher deprimida

A autoestima e o estigma do HIV

O estigma e o preconceito podem ser reais, devido à percepção de ameaça à saúde, ou simbólicos. Simbólico no sentido de que o HIV foi associado, desde as suas origens, a comportamentos contrários a certas ideologias ou a comportamentos tradicionalmente considerados imorais.

Muito do medo e da rejeição é derivado da ignorância. No entanto, esta não é a única explicação. Como a infecção pelo HIV está associada a comportamentos evitáveis, algumas pessoas tomam a liberdade de culpar as pessoas com HIV e acreditar que elas têm o que merecem.

O que é mais imoral: considerar que uma pessoa merece uma determinada doença, ou o próprio comportamento que algumas pessoas qualificam como imoral? Não esqueçamos que, nas origens da doença, ela era associada a homossexuais e drogados…

O que os estudos indicam?

Os resultados de um estudo realizado pela Sociedade Espanhola Interdisciplinar de AIDS  indicam que mais da metade da população se sente incomodada na presença de uma pessoa com HIV e tentaria evitar o contato com ela. Isso se traduz em comportamentos e atitudes discriminatórias, como ser a favor de tornar os nomes das pessoas com HIV acessíveis ao público para ser possível evitá-las.

Esse medo provavelmente deriva da falta de informação sobre a doença. 17% da população acreditava que poderia contrair HIV compartilhando banheiros públicos, e até 34% com uma picada de mosquito. Isso leva a equívocos em relação à facilidade de transmissão do vírus, o que incentiva o preconceito, o estigma e a discriminação.

Consequências do HIV na autoestima

O preconceito e o estigma colocam muitas pessoas em risco, principalmente ao impedir que tenham apoio social. Isso pode fazer com que as pessoas com HIV tenham vergonha do seu status, culpando a si mesmas e se autoestigmatizando.

A autoestima dessas pessoas pode ser muito baixa. Isso leva a níveis bastante elevados de ansiedade e estresse. Se uma diminuição na autoestima não for detectada precocemente, um transtorno depressivo pode se desenvolver. Nos casos mais graves, a pessoa pode vir a acreditar que a única maneira de acabar com o sofrimento é com o suicídio. Isso é 66 vezes mais comum na população com HIV do que na população geral.

Outra consequência séria e perigosa de ter um baixo nível de autoestima, assim como outros distúrbios emocionais, é interferência na adesão ao tratamento antirretroviral, que está gravemente prejudicada nesses pacientes. Na verdade, realiza-se uma intervenção psicológica com o objetivo de aumentar a adesão ao tratamento, pois, para que seja eficaz, é necessário uma adesão de 95 a 100%.

Homem chateado

Autoestima e comportamentos de risco

Estudos indicam que o baixo nível de autoestima está associado a relações sexuais precoces, um maior número de parceiros sexuais, dificuldades de assertividade sexual e maior frequência de práticas sexuais de risco.

Por outro lado, maiores escores de autoestima estiveram relacionados a atitudes positivas em relação ao preservativo e maior percepção da eficácia na negociação do seu uso. E uma terceira corrente sugere que jovens com uma alta autoestima podem se envolver em comportamentos sexuais de risco devido à sua baixa percepção de vulnerabilidade ao risco.

Sabendo da importância da autoestima no desenvolvimento da sexualidade e mais especificamente na prevenção de comportamentos de risco associados, neste caso, na prevenção da infecção pelo HIV, além de oferecer aos jovens uma educação sexual adequada, um módulo para o trabalho da autoestima deve ser incluído nesses programas.

No que diz respeito à forma como a nossa atitude pode afetar a autoestima das pessoas com HIV, é necessário oferecer informações precisas sobre a doença, aumentar a consciência socialpromover a tolerância e a compreensãoO objetivo: acabar com o estigma e a discriminação que fazem tanto mal.

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