segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Tratamento de cervicalgia: princípios úteis para suas aulas

A dor cervical é um mal comum, especialmente em uma sociedade de sedentários com má postura. Por isso o tratamento de cervicalgia é importantíssimo para garantir o bem-estar e qualidade de vida dos nossos alunos.

A dor começa como um incômodo durante o trabalho, até que a pessoa tenta dar uma alongada, melhorar a postura, mas nada funciona. Com o tempo a dor evolui, torna-se limitante, deixa o trabalho insuportável, então a pessoa procura um médico e descobre alguma condição afetando a cervical. 

Se você trata de alunos com dor cervical com frequência nos responda: você sabe o que faz um bom tratamento? Caso a resposta seja não, recomendamos que continue lendo esse artigo! Separamos alguns princípios que te ajudarão a fornecer um tratamento de cervicalgia completo e com ótimos resultados para seus alunos.

Falaremos um pouco sobre as bases de sustentação que precisamos trabalhar, musculaturas e regiões que influenciam na dor. Quer aprender tudo isso e ainda um pouco a mais? Continue lendo.

Bases de sustentação para tratamento de cervicalgia

O corpo é um complexo organismo cheio de partes interdependentes. Percebemos isso através do comportamento das cadeias musculares e das fáscias, sempre que existe uma tensão ela se espalha pela cadeia e afeta outras regiões.

Falamos tudo isso para mostrar uma verdade simples, mas muito esquecida: nenhum problema fica isolado na região cervical.

Quando o aluno entra no seu Studio reclamando que está com dor você pode ter certeza que existem problemas relacionados e tensões espalhadas pelo corpo. Elas podem variar de caso para caso, mas estarão lá. 

Com tantas tensões e desequilíbrios espalhados fica a dúvida, o que trabalhar primeiro? É simples, começamos pelas bases e aos poucos vamos evoluindo.

Existem algumas regiões que servem de base de sustentação da coluna cervical. Sem elas seu tratamento falha porque o corpo é incapaz de sustentar os movimentos e manter a estabilidade e mobilidade da coluna. Elas são:

  • Primeira base: complexo da cintura escapular;
  • Segunda base: região do transverso do abdômen;
  • Base principal: glúteo e membros inferiores.

Precisamos trabalhar coxa, glúteo, escápula, abdômen, todas as bases para obter melhora no quadro.

Com o auxílio dessas regiões, a cervical do aluno estará bem sustentada e pronta para trabalhos isolados e específicos para cervical. Trabalhando as bases também conseguimos melhorar a postura, que está entre uma das grandes causadoras das dores cervicais.

Nossa recomendação é sempre evitar segmentar o corpo durante o tratamento de cervicalgia. Talvez seja necessário usar um ou outro exercício isolado para cervical, mas a maior parte da sessão não deve ser isolada. 

Estamos tratando uma pessoa, não uma coluna cervical sozinha. Prepare sua aula pensando na globalidade do corpo e não em um problema específico da coluna cervical, o que limitaria suas opções.

Musculaturas geralmente comprometidas nos casos

Cada caso que encontramos no Studio é único, apesar disso existem algumas musculaturas que costumam estar comprometidas na cervicalgia. Chamamos essas regiões de vilões visíveis e invisíveis, sendo os visíveis aqueles que quase todo mundo lembra.

Existe uma diferença em importância entre eles? Não, precisamos trabalhar tanto vilões invisíveis quanto visíveis no tratamento de cervicalgia. O que você precisa é não esquecer os vilões invisíveis e incluí-los no seu planejamento de aula.

Os vilões visíveis recebem mais foco durante o tratamento por estarem sempre mais evidentes nos pacientes com cervicalgia. O que quer dizer que raramente são esquecidos, mesmo assim vale à pena conferir alguns deles:

  • Trapézio superior, médio, inferior;
  • Masseter;
  • Musculatura do pescoço;
  • Cintura escapular.

Os vilões invisíveis costumam ser ignorados apesar do seu papel essencial no tratamento. Frequentemente as fáscias e musculaturas que vou mencionar são ignoradas completamente em nossos pacientes. 

Sabemos que esquecer de trabalhar uma região desequilibrada é a melhor maneira de errar no tratamento ou deixar que a dor retorne mais tarde. Por isso é importante relembrar essas áreas e ainda mais importante trabalhá-las em aula.

Fáscia Craniana

Um paciente com cervicalgia terá diversos pontos de tensão localizados no crânio, o mesmo acontece em pacientes com enxaqueca e até sinusite. 

A maioria são pontos gatilhos latentes, fazendo com que sejam difíceis de identificar e tratar. Mesmo assim eles estão lá e muito tensionados, causando praticamente o mesmo problema que um ponto gatilho ativo.

Ao começar o trabalho com um paciente com cervicalgia busque cuidadosamente os pontos espalhados pela fáscia craniana. Depois realize uma boa liberação miofascial e o que for necessário para liberar esses pontos de tensão. 

Está com dificuldades de encontrar os pontos? Realize um teste simples buscando com as mãos ao longo da fáscia e perceba as regiões que estão mais tensas.

Pode até fazer esse teste em você mesmo caso sofra de dores cervicais, apalpe a fáscia craniana e perceba a tensão. É nessas regiões que encontrará os pontos gatilhos que precisam de liberação.

Globo Ocular

Os antigos falam que os olhos são a porta da alma. Talvez eles não consigam te levar até a alma do seu paciente, mas são entradas sensoriais importantes para seu corpo. 

Problemas relacionados a eles causam dificuldades em outras partes do corpo e a coluna sofre em especial. Mesmo que muitas vezes esquecemos que os olhos influenciam muito a postura e, lembrem, a postura influencia nas dores cervicais.

Alguns alunos possuem algum tipo de desvio no olhar, o que força uma adaptação da cabeça. Ele inclina a cabeça para o lado, corrigindo o desnível e melhorando sua visão. Mas essa é uma solução temporária que a longo prazo só piora a situação do aluno. Com o tempo a cervical começa a sofrer pela compensação e desenvolve dores.

Fique muito atento a características do olhar do seu aluno. Eventualmente você identificará um problema que é impossível de corrigir somente com o movimento. 

Nesse caso encaminhe o aluno para um oftalmologista que te ajudará a corrigir o desvio no olhar. Após a correção conseguiremos consertar os desequilíbrios causados pela compensação e realizar o tratamento de cervicalgia.

Referência visual nos exercícios

O globo ocular será importante para a realização de qualquer movimento. Ele é interligado à região cervical em especial graças à uma conexão de músculos e fáscias. 

Duvida do quê estamos falando? Faça o teste abaixo para ver como o olhar muda completamente um movimento.

  1. Olhe para um ponto fixo à sua frente;
  2. Comece a movimentar a cabeça para cima e para baixo, mova os olhos na mesma direção do movimento;
  3. Continue a mover sua cabeça para cima e para baixo, mas agora mova os olhos na direção oposta do movimento.

Ficou desconfortável com a última parte do teste? O olhar direciona os movimentos do corpo, por isso é tão importante orientar o aluno sobre sua direção nos exercícios. Esse é o referencial de movimento de seus alunos.

Falando em referencial, temos outro caso um pouco complicado de problemas relacionados ao olhar: alunos com óculos. 

O ideal é que esses alunos mantenham o acessório durante a aula inteira para evitar mudar o referencial. Só peça para seu aluno retirar os óculos quando existir risco de caírem ou de danificar o acessório.

Outra possibilidade é pedir que o aluno adote o uso de lentes de contato para a aula.

Peitoral Menor

O peitoral menor costuma estar ligado a tratamentos de dores nos ombros, ele é um dos responsáveis pela rotação dessa articulação. Também devemos lembrar que pacientes com cervicalgia costumam apresentar tensão no peitoral menor.

A tensão se espalha, levando a ainda mais tensão na região do trapézio, músculos Psoas, diafragma e, claro, cervical. Com o peitoral menor tensionado os movimentos da cintura escapular inteira ficam prejudicados.

Esses vilões invisíveis são importantíssimos no tratamento de cervicalgia e te ajudam a resolver o problema de maneira definitiva. 

Deveremos trabalhá-los juntamente aos vilões invisíveis e de preferência usando exercícios globais. Todas as regiões do corpo estão interligadas e deverão ser corrigidas para um bom tratamento.

Como a Escápula influencia no tratamento de cervicalgia

Acabamos de mencionar o peitoral menor e sua influência na coluna cervical. Assim como o peitoral menor, a escápula geralmente recebe mais atenção nos tratamentos de ombro, apesar de estar bastante relacionada com a cervical. Essa relação está mais presente quando pensamos no serrátil, que influencia muito o tratamento de dor cervical.

O serrátil é um excelente estabilizador de ombro que mantém as escápulas no gradil costal. Se estiver funcionando bem teremos movimentos eficientes da articulação do ombro e das escápulas. Mas quando ele estiver enfraquecido teremos movimentos de ombro prejudicados e tensões espalhadas para a coluna cervical.

Agora lembre-se que o serrátil não é o único estabilizador do ombro, ele trabalha juntamente ao oblíquo interno e externo. O melhor é realizar um trabalho de serrátil e oblíquos para fazer com que a sustentação da cintura escapular seja mais forte e, consequentemente, a cervical fique também mais estabilizada.

Diagnóstico através do conhecimento de dermátomos e miótomos

Muita gente viu dermátomos e miótomos pela última vez na faculdade de fisioterapia ou em algum artigo científico que estava lendo. Eles costumam estar distantes da prática, tão distantes que é comum esquecer deles completamente. Mesmo assim podemos usá-los no diagnóstico de pacientes com cervicalgia e facilitar o tratamento.

Miótomos estão relacionados à região motora, já dermátomos estão relacionados  região sensitiva. Dependendo do caso do nosso aluno ele terá alguns sintomas diferentes como formigamento em algumas partes do corpo ou dificuldade em alguns movimentos.

Analisando esses sintomas conseguimos entender qual região da coluna cervical está mais comprometida ou lesionada. 

Veja abaixo essa relação até a altura de C8, já que é até ela que vamos com a enervação para casos de cervicalgia.

  • Região de C1: flexão cervical superior (movimento do aceno com a cabeça);
  • Região de C2: extensão cervical superior (musculatura profunda), região occipital;
  • Região de C3: flexão lateral da coluna, fasce lateral do pescoço;
  • Região de C4: elevação da cintura escapular, região da clavícula e levantador da escápula e trapézio;
  • Região de C5: abdução do ombro e rotação externa, região do dermátomo: deltóide lateral e região ântero lateral do braço;
  • Região de C6: flexão de cotovelo e extensão do punho. Fasce lateral do braço até o polegar;
  • Região de C7: extensão do cotovelo e flexão do punho. Fasce posterior do braço e antebraço até o dedo médio;
  • Região de C8: extensão do polegar desvionar. Metade distal do antebraço até a borda do dedinho.

Conclusão

O tratamento de cervicalgia é mais complexo do que alguns de nós pensam. A cervical não é uma região isolada do corpo, na verdade ela está muito conectada com suas bases e musculaturas da cintura escapular. 

Se quisermos um tratamento que funcione e livre o aluno da dor definitivamente precisaremos lembrar disso.

Dá para resumir o sucesso de um tratamento para dor cervical a uso eficiente de exercícios globais. Trabalhar todo o corpo de maneira inteligente nos ajuda a trabalhar a coluna cervical melhor, fortalecendo e reabilitando a região.

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