sábado, 7 de novembro de 2020

Por que falamos sozinhos?

Por que às vezes falamos sozinhos? Talvez essa seja uma característica de que “estamos perdendo a cabeça”? Como bem sabemos, o fato de divagar e raciocinar em voz alta sem ter nenhum outro interlocutor à sua frente costuma ser desaprovado. No entanto, é uma prática saudável que vale a pena praticar de vez em quando.

Dizem que grandes sábios como Einstein e Newton costumavam ter conversas profundas e muito complexas consigo mesmos. Quando Conan Doyle criou seu famoso personagem, Sherlock Holmes, ele não hesitou em dotá-lo dessa prática para mostrar que as mentes mais experientes não eram apenas um tanto peculiares em seus hábitos, mas também tinham suas próprias práticas de raciocínio.

Portanto, embora muitos de nós vivamos em mundos excessivamente barulhentos e muitas vezes optemos pelo silêncio como mecanismo de descanso, não é ruim iniciar uma boa conversa consigo mesmo de vez em quando.

Além de fazer companhia a si mesmo, você também conseguirá colocar em ordem muitas coisas que exigem a sua atenção. Além disso, a sua saúde emocional vai lhe agradecer.

Homem falando sozinho

Por que falamos sozinhos? Benefícios e curiosidades

Costuma-se dizer que falar sozinho é coisa de pessoas mais velhas, e também daquelas almas solitárias que, sem companhia, procuram desesperadamente um consolo. Isso não é verdade. É hora de colocar de lado essas ideias falsas. Se nos perguntarmos por que falamos sozinhos, a resposta é simples: porque isso é normal para os humanos.

Muitos de nós nos surpreendemos lançando um comentário de encorajamento ou uma pequena crítica a nós mesmos: “Mas como você pode ser tão desatento? Você já perdeu as chaves de novo, é claro que hoje não é o seu dia, vamos ver como ele acaba”.

Essas verbalizações repentinas são muito frequentes. A fala autodirigida também é comum, ou seja, iniciar um diálogo que se aprofunda em aspectos importantes. Vamos analisar o assunto a seguir.

Você costumava fazer isso quando criança: o discurso egocêntrico

Há muitas coisas que devemos aprender com as crianças. Além daquele olhar sempre curioso e pronto para experimentar coisas novas, descobrir e curtir o momento presente, também devemos nos atentar para os seus discursos egocêntricos. É o que Lev Vygotsky classificou como a fase infantil em que as crianças ainda não internalizaram a fala.

É comum vê-las imersas em seus mundos, conversando. E elas não fazem isso apenas com seus brinquedos. É comum praticarem essa fala autodirigida por alguns anos, embora depois ela acabe sendo silenciada.

Falar sozinho otimiza o cérebro

Já aconteceu com todos nós em algum momento. Às vezes nos encontramos no meio de uma encruzilhada. Temos um problema para o qual não temos solução; o diálogo interno não ajuda e depois começamos a falar em voz alta e com nós mesmos.

  • Esse comportamento não é apenas um traço de sanidade, mas também de inteligência. Isso é explicado por um estudo realizado na Universidade de Wisconsin-Madison. Quando passamos da fala interna para a externa e falamos de nós para nós, a mecânica do cérebro muda.
  • O que os autores deste trabalho nos dizem é que, usando a linguagem e nos comunicando conosco, melhoramos a percepção, a memória e a capacidade de resolver problemas.
  • Afinal, as pessoas têm aquela competência comunicativa que sempre nos deu uma vantagem notável sobre o resto dos seres do nosso planeta. Aproveitá-la, até consigo mesmo, pode ser de grande benefício.
  • Como o neurologista Alexander Luria (1980) apontou, a linguagem cumpre mais do que uma função social. Segundo ele, também ajuda a direcionar o processamento cognitivo.

Você pode ser seu melhor treinador e agente motivacional

Por que esperar por reforços externos? É realmente necessário que os outros nos encorajem a fazer certas coisas? Nós temos a nós mesmos. Você pode ser o seu melhor agente motivacional, se assim o desejar. Portanto, caso você esteja se perguntando por que às vezes falamos sozinhos, a resposta também pode ser a seguinte: o cérebro quer que você encontre encorajamento em si mesmo.

“Estou orgulhoso de você. Você percebeu o progresso que fez?”,“Não se preocupe com aquele erro que você cometeu. Agora você sabe o que é melhor evitar. Vamos começar de uma nova linha de partida depois de obter lições valiosas. É hora de seguir em frente e você vai se sair bem”.

Esse tipo de discurso autodirigido é muito benéfico. Permitir a ativação daquele alto-falante externo de vez em quando se reverterá de forma excelente em nosso crescimento pessoal.

Além disso, não podemos esquecer outra vantagem notável: nos permitir focar. A fala autodirigida permite que você se concentre nos seus objetivos e no que é importante.

Você pode ser seu melhor treinador e agente motivacional

Por que às vezes falamos sozinhos? Para nos conectarmos com as emoções

O diálogo externo tem uma grande capacidade de autorregulação. Não só nos ajuda a aprimorar os processos cognitivos para resolver problemas, mas também nos permite ficar mais atentos às coisas e nos conectar melhor com as emoções, detectando-as, esclarecendo-as e gerenciando-as.

Perguntar a nós mesmos o que sentimos, por que e o que podemos fazer com essa emoção pode ser algo realmente catártico.

Para concluir, assumir por um momento essa distância psicológica para dialogar consigo mesmo sempre será saudável. Estamos, portanto, diante de mais um recurso ao qual recorrer, uma técnica a usar quando precisarmos dar à vida mais harmonia, equilíbrio e bem-estar.

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