A psicanálise pode parecer complexa pelos nós que cria, mas se os desatarmos, podemos desfrutá-la a fundo por meio de figuras literárias. Um desses conceitos é o nó borromeano, uma maneira maravilhosa de explicar a forma como funcionamos.
Abordar a concepção do nó borromeano é mergulhar na psicanálise lacaniana, que explora vários aspectos das emoções, do pensamento e do comportamento do indivíduo, e inclusive da sua conexão com a realidade.
Jacques Marie Émile Lacan foi um psicanalista e psiquiatra francês do início do século. Ele foi uma das figuras mais relevantes do estruturalismo francês contemporâneo. Suas teorias resultaram em rejeição e adesão. Ele se relacionou com o movimento freudiano e chegou a gerar uma tensão com a Associação Psicanalítica Internacional. Na verdade, ele acabou se distanciando e fundou a Escola Freudiana de Paris em 1964.
Suas contribuições para a psicanálise foram relacionadas à filosofia, linguística e arte. Relacionou-se com artistas como André Breton e Salvador Dalí, e mergulhou no pensamento de Heidegger, Strauss e Hegel. Seu trabalho é bastante polêmico, pois alguns afirmam que não segue as raízes freudianas; entretanto, o próprio Lacan optou por um retorno a Freud. Ele argumentou que o analista não é um ouvinte neutro e enfatizava o desejo e o prazer inconscientes.
“O inconsciente está estruturado como uma linguagem”.
-Jaques Lacan-
O que é o nó borromeano?
É chamado de nó borromeano uma constituição de três anéis entrelaçados; a norma diz que se algum deles se separa, os outros são soltos. O conceito vem do símbolo heráldico da família Borromi.
Lacan falou desse nó na psicanálise para dar forma à estrutura do ser falante, dividido nas seguintes partes:
- O imaginário. Este é o primeiro registro, está associado a imagens. Tem como base a estrutura do eu, que vai se formando pela imagem do outro mediante a identificação. É originalmente significado pela mãe.
- Registro simbólico. É essencialmente linguístico. Está vinculado ao campo intersubjetivo por meio do qual fazemos trocas com o outro e com o campo do conhecimento e da cultura. Via de regra, começamos a nos familiarizar com a linguagem por meio da interação.
- O real. É sobre o que não pode ser representado por imagens ou por linguagem. Ou seja, o incognoscível, o impensável ou o que resiste. Difere da realidade porque seria a forma como entendemos o mundo, pois estaria dentro dos registros simbólicos e imaginários; enquanto o real carece de sentido.
Portanto, é uma topologia. Lacan sugeriu em seu livro, Nomes-do-Pai, que os três registros estão presentes em todo sujeito, e que seu nó é essencial para que a realidade deste seja consistente, mantendo um discurso e um vínculo social com o outro. Assim, as diferentes formas de atar os nós determinam a estrutura psíquica.
Conceitos associados
Em um ponto da teoria lacaniana, apenas três registros estavam presentes no nó borromeano. Em outro instante, Lacan acrescentou um quarto registro: trata-se do sinthome, que viria a unir o real, o imaginário e o simbólico.
Então, o sinthome ajudaria o sujeito a “ancorá-lo” de tal forma que ele se conecte com a realidade e se adapte. Assim, funciona como um enclave que, ao ser solto, leva ao aparecimento da psicose.
Outro conceito essencial associado é o do “nome do pai”, que atua como uma lei fundamental, sendo um significante essencial que permite a união dos três registos. Depois, Lacan revela a função paterna como âncora da atividade simbólica do indivíduo, aquela que a lei impõe.
Além disso, podemos associar o nó ao objeto a, pois é a outra parte do desejo que nos faria sentir como se algo estivesse faltando em nossas vidas. Dessa forma, está vinculado à perda. Então, o sujeito, além de ser estruturado pelos três registros, é regido por impulsos.
Os impulsos são percorridos pela linguagem e levam o indivíduo a buscar seu objeto de desejo. Se satisfizermos o desejo, chegaremos ao prazer; se essa satisfação não for produzida, surge a angústia. Finalmente, quando nos opomos à realidade, o fantasma aparece.
Em suma, o nó borromeano representa os elos que constituem a nossa estrutura psíquica. O simbólico nos diz que o mundo está estruturado de acordo com leis que regulam as interações e está profundamente vinculado à linguagem; o imaginário tem a ver com a imagem espelhada do corpo, que nos permite nos identificar; e o real é o que tem a ver com a existência, com o que não tem sentido e é difícil para nós colocarmos em palavras.
Assim, dependendo de como nosso nó está ou não atado, a nossa estrutura psíquica será uma ou outra. Além disso, o sinthome apareceria como um quarto registro que impediria o aparecimento de comportamentos relacionados à psicose. Definitivamente, uma analogia fascinante para entender como a nossa mente funciona.
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