quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A psicologia positiva existencial, segundo Paul T.P. Wong

Para muitos, a psicologia positiva tem um “lado obscuro”. O foco quase exclusivo nas emoções de valor positivo, como a alegria, o entusiasmo e a esperança, pode fazer com que o lado menos amável da vida não receba atenção. Como resposta a isso, surgiu uma nova e valiosa perspectiva: a psicologia positiva existencial.

Seu defensor é Paul T.P. Wong, um psicólogo canadense que lidera a “segunda onda da psicologia positiva”. Esta corrente, mais do que uma reformulação, busca a conscientização de que a infelicidade também existe e de que transitar por ela durante um determinado período é algo normal. Afinal de contas, como bem apontou Albert Camus: “Ninguém alcança a alegria de viver sem ter contato, primeiro, com o sofrimento”.

O que o Dr. Wong nos propõe com sua interessante teoria é uma nova forma de entender o modelo que Martin Seligman estabeleceu nos anos 90, ao permitir a compreensão das bases biológicas do bem-estar psicológico e da felicidade.

É hora de deixarmos de lado as emoções mais hedonistas e convenientes para navegarmos entre as dificuldades até chegarmos a um rumo, a um sentido, a um propósito. Vamos nos aprofundar.

Palestra de Paul T.P. Wong

O que é a psicologia positiva existencial de Paul T.P. Wong?

Há algo que Paul T. P. Wong comenta com frequência em suas palestras: o mundo atual é caótico. Vivemos um presente cheio de dificuldades e temos a necessidade de outra perspectiva terapêutica. A psicologia existencial positiva busca ajudar as pessoas a conseguirem estabilidade e bem-estar, fazendo com que consigam manejar as dificuldades cotidianas e os desafios constantes com os quais nos deparamos.

Desta forma, um ponto de crítica à psicologia positiva e a nomes como Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi é o fato de terem se centrado exclusivamente nas áreas mais saudáveis do ser humano. Fatores como a criatividade, o entusiasmo, a esperança ou mesmo a inteligência emocional nos guiam para que possamos extrair o melhor de nós mesmos. Assim, quem trabalha e desenvolve estas capacidades pode alcançar o pico, a autorrealização descrita por Abraham Maslow.

Bom, mas o que acontece quando alguém se sente perdido? O que acontece se eu estiver lidando com uma depressão após a perda de um familiar ou com o abandono do meu parceiro? Nessas circunstâncias, não consigo acender a lâmpada do entusiasmo. Também não é possível despertar minha criatividade, pois minha mente se encontra bloqueada, estagnada no desespero.

São estes os contextos nos quais a psicologia positiva existencial de Paul T. P. Wong adquire sentido.

A coragem e a responsabilidade de enfrentar as dificuldades

A psicologia positiva existencial não busca diminuir a autoridade da psicologia positiva tradicional. Ela vai além, entendendo que, às vezes, é feita uma interpretação simplista daquele modelo, com publicações que frequentemente caem no pensamento mágico de que, se apenas desejarmos, nossas expectativas serão cumpridas. É o que vemos, por exemplo, em O Segredo, de Rhonda Byrne.

O doutor Wong afirma o seguinte: cada um possui o poder de despertar a própria coragem, atitude e valentia para fazer frente à adversidade. Se formos capazes de desenvolver um mecanismo psicológico baseado na resiliência, na capacidade de encontrar um sentido em cada circunstância, será possível almejar a felicidade.

Portanto, a psicologia positiva existencial não diminui o valor da felicidade ou da esperança. As emoções positivas são, na realidade, o motor do ser humano. Não obstante, é preciso dar espaço às emoções de valor negativo e entendê-las.

O existencialismo enquanto pedra fundamental da psicologia positiva existencial de Wong

Há um aspecto muito valioso nesta perspectiva estabelecida em 2011. Ela, sem dúvida, integrou a perspectiva existencial à própria psicologia positiva. Deste modo, agrega-lhe mais sentido, finalidade e utilidade. Assim, tanto filósofos quanto psicólogos existenciais nos lembram de que a vida é cheia de paradoxos, percalços e problemas com os quais devemos lidar.

Fazer frente a estas dimensões é o que nos permite desenvolver recursos psicológicos notáveis. É assim que aumentamos a coragem, é assim como nos comprometemos com o esforço, a superação e o firme compromisso estabelecido entre nós mesmos e a vida. A psicologia positiva existencial supõe que a felicidade autêntica só adquire sentido quando o indivíduo sabe o que é o sofrimento e sabe como enfrentá-lo.

Desta forma, um de seus pilares é a mediação e a busca por estratégias que permitam que as pessoas aprendam a lidar com a perda, medo da morte, decepção, ansiedade, medo, desespero.

Mulher deprimida

Viktor Frankl e a busca por um sentido

Segundo Paul T. P. Wong, a psicologia positiva precisa voltar às suas raízes existenciais-humanistas. Só assim será possível recuperar seu significado de transcendência. E mais: não podemos ajudar alguém a reconstruir sua realidade para alcançar o bem-estar e a felicidade se não nos orientarmos por aquilo que foi ensinado por Viktor Frankl: a busca pelo sentido.

Quando alguém navega pelos oceanos da incerteza e da adversidade, precisa de uma luz. Precisa de um foco, um refúgio, algo que lhe dê sentido e que a incentive a lutar e a não se render. Por isso, o doutor Wong nos incentiva a fazer os seguintes questionamentos:

  • Quem sou eu? O que me define?
  • Como eu poderia ser mais feliz? O que é uma boa vida para mim?
  • Qual é a minha vocação? A que devo dedicar minha vida para me sentir bem?
  • Estou tomando as decisões certas?
  • A que lugar eu pertenço? Por que me sinto tão solitário neste mundo? Onde posso encontrar aceitação? Onde fica a minha casa?
  • O que verdadeiramente me traz sentido?

Para concluir, a psicologia positiva existencial nos traz uma corrente valiosa. Uma que, na verdade, recupera conceitos passados, pilares que foram essenciais para o próprio desenvolvimento da psicologia como ela é. De fato, agora mais do que nunca, neste momento complicado cheio de incertezas e desafios, é importante trabalhar estes princípios.

Precisamos nos lembrar dos nossos propósitos vitais e liberar espaço para as emoções mais complicadas, aquelas que podem incomodar ou doer. Entendê-las nos torna mais sábios. Saber manejá-las nos torna pessoas mais fortes e mais capazes.

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