quarta-feira, 14 de outubro de 2020

A coterapia e seus benefícios

O mais comum é que as sessões terapêuticas sejam orientadas por apenas um psicólogo. No entanto, há situações nas quais contar com dois profissionais (coterapia) pode representar grandes vantagens, tanto para o paciente quanto para os terapeutas.

Carl Whitaker, pioneiro em terapia familiar, foi um dos primeiros a destacar a necessidade de realizar abordagens com dois profissionais. Consequentemente, desenvolveu um modelo de coterapia que foi uma das grandes contribuições para a terapia familiar.

A coterapia consiste na aplicação de terapia por dois profissionais, seja para uma pessoa só, para um casal ou grupo. Os terapeutas trabalham de forma conjunta, integrada e sinérgica para chegar a um objetivo comum, que costuma ser a melhora do paciente e do seu transtorno ou problema.

Sessão de terapia

Quem forma a dupla de terapeutas?

Quando falamos de dois profissionais, costumamos nos referir a uma dupla de psicólogos, que podem ou não pertencer à mesma corrente terapêutica. Além disso, ambos podem ser especialistas ou pode acontecer de um deles ser um aprendiz. Isso é comum na terapia familiar e na terapia de casal, por exemplo.

A dupla também pode ser formada por um farmacoterapeuta (psiquiatra) e um psicoterapeuta (psicólogo). Essa combinação é mais frequente em casos que envolvem transtornos mentais mais graves que exigem tratamento farmacológico, além do tratamento psicológico.

Também podemos falar de coterapia quando treinamos uma pessoa que faz parte do círculo do paciente para que ela atue como nossa colaboradora, ou seja, uma pessoa que não é profissional da área. Dessa forma, ela poderá ajudar o paciente a realizar as tarefas solicitadas na terapia. Os exercícios de exposição podem ser realizados conjuntamente em um tratamento de fobia, por exemplo.

Isso também acontece caso o tratamento seja aplicado em uma criança, especialmente no tratamento de crianças com transtorno autista, enurese noturna ou deficiência intelectual. É fundamental que os pais e/ou professores sejam treinados e atuem como coterapeutas para continuar com o tratamento fora do consultório.

Também é importante no caso de pessoas mais velhas, principalmente quando elas sofrem de algum tipo de demência. Treinar os familiares e cuidadores permite que eles se adaptem à patologia do paciente, aprendam a lidar e melhorem a condição de vida do paciente e de seu entorno. Além disso, permite continuar com o tratamento em casa e com as atividades de estímulo cognitivo necessárias.

Condições para que a coterapia seja benéfica

  • Deve haver comunicação e coordenação entre os terapeutas: antes da sessão, durante e depois da análise do caso.
  • As responsabilidades e a autoridade de cada um dos terapeutas devem ser bem delineadas. Caso um dos dois seja especialista e o outro aprendiz, é provável que este último assuma o papel de observador, por exemplo.
  • O fato de pertencer a correntes terapêuticas distintas nunca pode ser um obstáculo na terapia. Na verdade, isso deve ser enriquecedor. Neste sentido, deve-se possibilitar um tratamento integrado por meio do uso de técnicas de diferentes correntes em função da sua efetividade ou do tipo de paciente ou problema.
  • A relação entre os terapeutas nunca deve ser competitiva. Ambos os membros devem ser capazes de reconhecer as forças e limitações, tanto as próprias quanto as do outro, além de reconhecer que ambos são parte essencial da terapia.

Vantagens da coterapia

A presença de dois terapeutas proporciona grandes benefícios, não só para os pacientes, mas também para os próprios terapeutas.

  • É possível alcançar mudanças mais profundas e mais rápidas do que com apenas um profissional.
  • Ter dois terapeutas permite que os pacientes disponham de mais recursos que os oferecidos por apenas um. Abre-se um leque mais amplo de ferramentas à disposição do paciente. Isso é observado de forma mais clara nas terapias individuais orientadas por uma dupla.
  • Possuir dois profissionais encarregados da avaliação e tratamento permite obter um foco holístico, tanto do problema quanto do tratamento. Isso permite realizar uma melhor coleta de dados, com menos perda de informação, o que possibilita um diagnóstico mais completo.
  • Especificamente na terapia familiar ou de casal, dispor de dois profissionais faz com que seja mais fácil fazer uma dramatização. A dupla pode desempenhar, cada um, o papel dos membros do casal ou dos pais, agindo como modelo.
  • Se falamos de terapia de casal, contar com dois terapeutas de sexos diferentes (para o tratamento de um casal heterossexual) proporciona a possibilidade de ser atendido, em certas questões, por uma pessoa do mesmo sexo que o paciente.
  • Caso um dos terapeutas não seja especialista, cria-se um espaço de aprendizagem muito benéfico. Isso pode facilitar os primeiros passos em psicoterapia de um futuro excelente psicólogo.
  • Contar com um companheiro de terapia pode ser uma forma de diminuir a pressão e o estresse por saber que não há apenas uma pessoa responsável pelo resultado final da terapia.

Díade psicólogo – psicólogo

Como comentamos antes, uma das opções é que a terapia seja aplicada por dois psicólogos. Isso é muito frequente na terapia familiar e na terapia de casal, além de ser comum em outros casos para transtornos que não requerem tratamento farmacológico adicional.

No contexto da terapia de casal e da terapia familiar, dispor de dois psicólogos permite que eles atuem como modelos do casal. Isso pode ajudar a solucionar determinados problemas e permite que o paciente (ou casal) conte com dois pontos de vista diferentes com respeito ao problema que o levou à consulta.

Da mesma forma, permite também que os terapeutas atuem como modelos para os pais e como modelos de interação com os filhos. Uma das principais vantagens de dois psicólogos aplicarem a terapia é que é mais fácil evitar possíveis enfrentamentos, como, por exemplo, entre um dos membros do casal e o terapeuta “contra” o outro membro do casal.

Talvez uma das terapias mais conhecidas, orientada por dois terapeutas de sexos diferentes, seja a Terapia Sexual de William Masters e Virginia Johnson, desenhada em 1970 para o tratamento de disfunções sexuais. No entanto, a terapia de casal foi proposta pela primeira vez por Mittelman em 1948 e aplicada por ele mesmo em 1961.

Benefícios da coterapia

Díade psicólogo – psiquiatra

Neste caso, a coterapia consiste em uma integração entre a terapia farmacológica e a psicológica. Isso é necessário, principalmente, nos casos que envolvem transtornos mentais mais graves que requerem uma intervenção multidisciplinar.

Nestes casos, a administração de fármacos melhora certos sintomas que podem interferir no desenvolvimento da vida normal de uma pessoa e, consequentemente, permite que os pacientes sejam mais propensos a responder à psicoterapia. Da mesma maneira, a psicoterapia pode ajudar a melhorar a compreensão da necessidade de tomar fármacos e a melhorar a aderência ao tratamento farmacológico.

Existe uma grande variedade de transtornos que se beneficiam desta disciplina terapêutica. Entre eles, encontramos:

  • Transtornos por consumo de substâncias. Para o tratamento do vício em algumas substâncias (álcool e heroína, principalmente), é necessário um tratamento farmacológico que permita reduzir os sintomas de abstinência, além de uma terapia psicológica para o treinamento do autocontrole, das habilidades sociais e de enfrentamento, prevenção de recaídas, etc.
  • Transtornos psicóticos como a esquizofrenia. O tratamento depende de tratamento farmacológico para a redução dos sintomas principais da doença. Porém, isto precisa ser complementado com uma terapia psicológica para melhorar a situação familiar, a competência social, para realizar a reabilitação cognitiva e para enfrentar os principais sintomas da doença (como as alucinações).
  • Alguns transtornos do humor. Transtornos depressivos graves e crônicos que precisam que a psicoterapia esteja acompanhada de tratamento farmacológico. No caso do transtorno afetivo bipolar, o principal tratamento é farmacológico. No entanto, a psicoterapia é necessária para favorecer a aderência ao mesmo, para fomentar estratégias de enfrentamento não farmacológicas ou para identificar sintomas prodrômicos para agir a tempo.
  • Alguns transtornos de comportamento alimentar, como a bulimia nervosa. Neste caso, os benefícios obtidos com o tratamento psicológico podem ser complementados com os efeitos dos fármacos, por conta do seu efeito na melhora do humor e por seus efeitos antibulímicos.

Trabalhar em conjunto em benefício do paciente

Está claro que nem todos os tratamentos ou terapias precisam ser aplicados por uma dupla. Inclusive, do ponto de vista da integração técnica sistêmica (na qual é escolhida uma ou outra técnica de tratamento em função do tipo de cliente ou paciente), isso pode ser contraproducente.

No entanto, como vimos, existe uma grande variedade de transtornos que respondem melhor a terapias orientadas por dois profissionais, sejam dois psicólogos, um psicólogo e um psiquiatra, ou uma pessoa próxima ao paciente treinada para colaborar no seu tratamento. Por essa razão, é uma opção que deveríamos levar em conta na hora de tratar determinados transtornos ou determinados pacientes.

Como toda terapia ou tratamento, ela também apresenta dificuldades, derivadas principalmente da própria relação entre os terapeutas. Por isso, caso você decida recorrer à coterapia, não deve se esquecer de que ela constitui um contexto de colaboração, coordenação, companheirismo e trabalho conjunto e complementar em benefício do paciente.

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