Poderíamos definir os impulsos como uma série de forças especialmente intensas destinadas a direcionar o nosso comportamento, conquistar nossa capacidade de raciocínio e até, me atreveria a dizer, nos forçar a agir de uma maneira que nunca desejaríamos. Controlar impulsos é uma tarefa árdua que requer treinamento do autocontrole e uma prática constante, de modo que nossa capacidade de acalmar sua energia exceda seu caráter de comando.
Somos seres emocionais e boa parte do nosso presente e futuro é e será condicionada pela administração que fazemos da nossa senciência. Também sabemos que cada emoção tem a sua própria função. Negativas ou positivas, elas servem para nos mobilizar e responder a uma encruzilhada que exige uma decisão de nossa parte.
A tristeza nos ajuda a processar uma perda e a nos proteger para recuperar o fôlego em nossa intimidade, o medo nos convida a fugir, escapar ou evitar um perigo potencial que possa comprometer nossa vida, a raiva aumenta a nossa capacidade de autodefesa, etc.
Embora aliadas na maioria dos casos, as emoções podem se tornar problemáticas no momento em que deixam de ser funcionais, no momento em que prejudicam nossas vidas, nosso ambiente e a nós mesmos. É nesse ponto que uma boa gestão emocional faz a diferença.
Muitas pessoas lutam contra emoções transbordantes. É como se o botão de controle do volume estivesse no máximo do que são capazes de sentir.
Por que não consigo controlar meus impulsos?
Há pessoas que veem o desafio de controlar seus impulsos como uma colina íngreme devido a uma fraca capacidade de regulação emocional. Especificamente, este padrão costuma estar presente no transtorno de personalidade limítrofe, no qual as situações são vividas seguindo a voz dos impulsos. Não há pontos intermediários: em um dia eu te amo e no dia seguinte te odeio, um dia meu trabalho é a paixão da minha vida e no outro eu o abomino.
Por outro lado, pessoas com alta sensibilidade também costumam experimentar esse fraco controle de impulsos, pois são incapazes de tolerar o menor desconforto. Sempre dizem a si mesmas que não deveriam se sentir mal, que não precisam experimentar emoções negativas, e essa negação inevitavelmente leva a um aumento desses sentimentos.
A parte genética, embora tenha uma relação, não é a única responsável por esse modo de ser e de se comportar. Embora uma parte da nossa personalidade esteja programada desde o nascimento, ela também pode depender muito das experiências que temos em nossas vidas, especialmente na infância.
Certos traumas, abandonos, negligência dos pais, humilhações e ambientes de incapacitação nos quais fomos impedidos de nos emocionar ou experimentar afetos de qualquer tipo são os principais responsáveis pela baixa tolerância ao desconforto, falta de controle emocional e ineficácia interpessoal.
O que posso fazer para começar a controlar os meus impulsos?
A psicologia atual desenvolveu uma infinidade de técnicas e estratégias para elevar nossa capacidade de controle acima de nossos impulsos. Nas palavras de Marsha Linehan, elas ajudam a ter uma vida que vale a pena ser vivida.
A primeira coisa que você deve saber é que as técnicas farão sentido desde que você reconheça que tem um problema com o controle de impulsos e decida que quer implementar uma estratégia eficaz para solucioná-lo. Se isso não acontecer, nada do que dissermos aqui vai ajudar, pois o primeiro passo é aceitar quem você é, como se comporta e saber qual é o seu objetivo, ou seja, aonde deseja chegar.
Uma vez superada essa questão, você estará preparado para tirar proveito das técnicas que apresentaremos a seguir. Para que elas funcionem, você vai precisar de paciência, vontade e esperança. É um processo lento, mas produtivo.
Quais habilidades podemos implementar?
Tolerância ao desconforto
Você pode dizer que “falar é fácil”, e você tem razão: é fácil falar, mas difícil colocar em prática. Ainda assim, vamos tentar. O que significa tolerar o desconforto? Basicamente, é aprender de uma vez por todas e internalizar a ideia de que a dor é inevitável e imprevisível. Não falo apenas de dor emocional, pois a dor física também é assim.
Você nunca sabe quando uma abelha pode picar você, por exemplo, e se isso acontecer, você terá que tolerar a dor por um tempo, até aplicar algo para resolvê-la. Para aplicar a tolerância ao desconforto, há três passos que você deve colocar em prática antes, nesta ordem: distraia-se, relaxe e enfrente. Feito isso, você estará mais apto a executar a aceitação radical das emoções e dos dissabores da vida, para que os problemas não o superem.
Distração
As emoções são muito intensas, mas duram pouco tempo; portanto, distrair-se é essencial, porque isso fará com que elas diminuam pouco a pouco. As melhores formas de distração são aquelas que têm a ver com os outros. Por exemplo, ligar para um amigo de confiança e conversar sobre um tópico irrelevante ou perguntar como ele está.
Também podemos nos dedicar a atividades agradáveis para nós. Alguns exemplos são regar e podar plantas, correr, ir à praia ou tomar um banho de espuma. O que queremos com a distração é que você não tome decisões ou faça qualquer coisa da qual possa se arrepender. Dessa forma, seu calor emocional diminuirá e logo você poderá ver a situação a partir de uma distância maior.
Relaxamento
Para relaxar, é importante que você eduque seus cinco sentidos para prestar atenção no presente. Relaxe com seu olfato, sua visão, sua audição, seu paladar e seu tato e crie um plano que funcione para você, pois nem todas as atividades relaxantes funcionam para todos da mesma forma. Você pode se sentar em um banco do parque, deixar o telefone em casa e prestar atenção ao que está acontecendo: O que você vê? Crianças? De que cor são os seus olhos? Qual é o aroma predominante no ambiente? Flores? Grama? Você ouve o riso das crianças brincando?
Enfrentar
Essa é a tarefa mais difícil porque envolve solucionar o problema que o afligiu. Para aplicar essa estratégia, você precisa pegar uma caneta e um papel e se concentrar no problema, e não na emoção. Não se trata de ficar tonto repetindo o quanto você se sente mal; já sabemos que as emoções estão invadindo o seu organismo. Agora, deixe-as ficar ali e resolva o problema.
Para isso, você pode se perguntar: Qual é o problema? Tem a ver com o meu trabalho, meu parceiro, meus amigos? O que eu quero alcançar? Que maneiras existem para conseguir isso que eu quero? Alguém vai se prejudicar se eu implementar essas alternativas? Qual é a opção mais saudável? Ao responder a essas perguntas, você estará muito mais apto a tomar uma decisão consistente sobre o problema e executar o plano de enfrentamento.
Você se anima a colocar essas estratégias em prática hoje? Não perca de vista o seu objetivo de vida e, no momento em que sentir o tsunami emocional se aproximando, PARE e pratique essas técnicas. Com perseverança e esforço, você sairá da armadilha na qual está preso hoje. Confie em si mesmo!
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