Diante do que não gostamos, temos diferentes formas de nos posicionar. Podemos reclamar do nosso azar, começar a trabalhar para mudá-lo, aceitá-lo e trabalhar para que não seja aquele ponto para o qual nosso olhar está sistematicamente direcionado. Podemos incluí-lo em nosso discurso, podemos excluí-lo dele. Temos a opção de aceitá-lo em nossos pensamentos ou de jogar fora todos aqueles que se referem ao que não gostamos. No entanto, de uma forma ou de outra, existem realidades que precisamos aceitar.
Em outras palavras, há fatos ou fenômenos que existem e continuarão a existir. Assim, para que não condicionem ou contaminem o nosso bem-estar, não teremos escolha senão aprender a conviver com eles, como fazemos, por exemplo, com muitas das manias que os outros têm e das quais não gostamos muito.
A imperfeição e as realidades que precisamos aceitar
O erro. Podemos optar pela posição um tanto romântica de considerar o fracasso uma coisa boa. Sem ele não poderíamos aprender, melhorar, vivenciar aquela sensação fabulosa de que estamos avançando. Ontem fazíamos algo de forma errada ou mediana, hoje já fazemos melhor.
Porém, quantos esquecimentos não nos causaram raiva? Quantos copos foram quebrados devido à nossa falta de jeito? Não calculamos bem a distância e batemos no carro de atrás. Não lembrávamos que a consulta médica era na quinta-feira e fomos hoje. Não importa o quanto fiquemos com raiva, não importa quanta atenção prestemos, continuaremos cometendo esses erros bobos que não nos ensinam muito. Portanto, essa é uma daquelas realidades que precisamos aceitar.
As expectativas
Os fatos raramente são colocados de forma a seguir exatamente o caminho que traçamos em nossa mente. Teríamos que carregar um caminhão em vez de uma mala para ter uma resposta pronta para todos os imprevistos. Na lista, sempre que tentássemos enumerá-los, haveria um lugar para “outros”.
Isso não é plausível. Assumir uma postura muito cautelosa ou contida para evitar o fato de que as circunstâncias, em muitos casos, são imprevisíveis, é um obstáculo muito grande. Seria preciso manter uma velocidade muito lenta, quando somos dinâmicos e mutáveis. Nesse sentido, a permanência é a exceção, e não a regra.
Por outro lado, não podemos nos livrar das expectativas, assim como não podemos nos livrar das primeiras impressões e vieses associados, como o efeito halo. De maneira natural, o que esperamos condiciona diferentes elementos do jogo psicológico, alguns tão importantes quanto a autoeficácia ou o controle da nossa atenção.
Trabalhar com o que percebemos, não com a realidade
Uma estátua não é feia. Uma pessoa não é honesta nem mentirosa. Ela pode se comportar assim com frequência, o que não significa que sempre o faça ou que não seja seletiva em seu comportamento com base no ambiente social. Na verdade, todos nós somos assim, e não é isso que nos torna pessoas interesseiras ou mais falsas do que uma nota de três reais.
Em uma imagem, dois pontos estão mais ou menos distantes dependendo do zoom/escala que aplicamos. Podemos achar que Rio de Janeiro e São Paulo são estados muito próximos ou muito distantes.
A vantagem que temos quando falamos sobre isso é que você e eu podemos pegar a mesma unidade de referência e dar um valor absoluto, livre de julgamento. Porém, transferir esta metodologia de medição para o mundo psicológico apresenta seus problemas: imagine que Rio de Janeiro e São Paulo estão se movendo o tempo todo e que não temos um meio de transporte entre os dois locais.
O que usaríamos como ponto de referência? Muito provavelmente, o que vemos naquele momento na tela. Por quê? Por ser muito confortável trabalhar apenas a partir do nosso ponto de vista e levar em consideração apenas as informações que chegam até nós pelos sentidos em um determinado momento. Ou seja, tendemos a trabalhar com fotos, quando o que queremos é trabalhar com vídeos e, dentro deles, com uma câmera capaz de girar 360 graus. No entanto, isso não é possível e é outra das realidades que precisamos aceitar.
O esquecimento, a última das realidades que precisamos aceitar
Eu tenho a palavra na ponta minha língua. A palavra que desejo acessar é como uma ilha. Sei onde está, mas não consigo encontrar um caminho entre as diferentes referências que tenho para me deitar nas suas praias: o seu significado, a última vez que a usei, a letra que começa ou termina… Sim, lembro-me desses detalhes, mas não consigo pronunciá-la agora.
Aquele rosto frequentava a escola comigo. Ele está esperando na fila. Mas como é o seu nome? Ele se sentava ao lado do João e o professor de matemática chamava sua atenção todos os dias. Sim, outra das realidades que não temos escolha a não ser aceitar é o funcionamento um tanto anárquico da nossa memória.
Listamos apenas algumas dessas realidades que precisamos aceitar e que, quando surgem, podem gerar uma frustração significativa. Quais você incluiria nesta lista e por quê?
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