sábado, 19 de setembro de 2020

Os sintomas da alma perdida

A alma perdida é um daqueles conceitos que muitos têm dificuldade para definir com precisão devido à sua ambiguidade. Primeiro, a própria ideia de “alma” é um pouco confusa. Para a religião, equivale a uma substância imaterial que habita o corpo. Na linguagem popular, refere-se ao mundo interior.

É importante destacar que a alma perdida é uma ideia presente em muitos mitos e lendas. Geralmente se refere a um espírito desencarnado, condenado a vagar eternamente como resultado de alguma perda incurável ou de uma culpa que nunca é paga. De uma forma ou de outra, esse é o equivalente em termos psicológicos.

Da mesma forma, o conceito de alma perdida aparece em terrenos distintos, como a psiquiatria ou o xamanismo, além da psicologia. Em todas essas áreas tem significados semelhantes, embora, obviamente, também existam diferenças. Vamos ver do que se trata.

“A alma é um copo que só se enche com a eternidade.”
-Amado Nervo-

Mulher triste sem rumo

A alma perdida na psicologia

Embora na psicologia a alma perdida não tenha recebido uma categoria específica, nem mesmo como uma síndrome, é um daqueles conceitos que muitos psicólogos usam para trabalhar com modelos.

As pessoas que apresentam essa característica não são exatamente deprimidas ou ansiosas, tecnicamente falando, mas têm alguns traços em que se pode notar a falta de conexão consigo mesmas.

As quatro características básicas da alma perdida seriam as seguintes:

  • Agem na defensiva. Em geral, são pessoas com medos muito profundos. Isso as leva a colocar grandes barreiras que impedem de conhecê-las. O problema é que elas também não se conhecem, porque o medo as invade por completo.
  • Têm uma mentalidade fechada. As almas perdidas costumam ter crenças e ideias inabaláveis. Na verdade, seu sistema de valores e crenças faz parte do seu escudo defensivo, e é por isso que se recusam a reavaliá-lo.
  • Repetem erros várias vezes. Esse tipo de pessoa se depara repetidamente com as mesmas situações adversas. Em partes, esse é o fator que as leva a ficar na defensiva.
  • Sentem-se desenraizadas. É como se fossem estrangeiros até na própria casa. Não fazem parte de grupos de amigos nem desenvolvem muita paixão pelo trabalho ou hobbies que preencham suas vidas.

O xamanismo e a perda de alma

No xamanismo, não falamos de almas perdidas, mas de perda da alma, um conceito semelhante, embora não idêntico. Esse conceito faria parte do que é chamado de “doença do susto”, ou simplesmente “susto”. A psiquiatria o reconhece como uma síndrome cultural.

O que caracteriza a perda da alma é a sensação de não ser você mesmo ou de haver partes de si que foram escondidas ou perdidas. Como consequência disso, perde-se a energia e a vitalidade. Da mesma forma, sente-se uma forte sensação de vazio e ansiedade, quase sempre acompanhada por depressão e fadiga.

O “susto” é uma categoria presente no xamanismo mexicano. Alguns dos sintomas dessa condição são os seguintes:

  • Sensação de bloqueio.
  • Sensação de confusão ou incompletude.
  • Decepção com a vida.
  • Ver a si mesmo como um estranho.
  • Vícios.
  • Sensação vital de noite escura.
  • Afastamento dos demais e medo de entrar em contato com outras pessoas.
  • Cansaço constante.
  • Sede de mudança e sensação de incapacidade de mudar.
Homem solitário

O encontro

Ninguém se torna uma alma perdida, ou “perde sua alma” sem motivo. Acontece que, na vida, para nos reconhecermos, inicialmente precisamos de alguém que nos reconheça. Que nos diga “você está aí”, “esse é você”. Isso é o que nossa mãe, ou quem quer que esteja em seu lugar, faz em condições normais durante a infância.

A questão é que isso nem sempre acontece. Às vezes a mãe não está presente, ou mesmo fisicamente presente não se faz presente, ou se recusa a nos reconhecer porque algo a impede. Acontece também que são vividas experiências confusas e dolorosas durante a infância e, então, as circunstâncias são tão invasivas que não deixam espaço para esse autorreconhecimento.

Existem muitas razões pelas quais uma pessoa cria um muro com o mundo ou evita ser como ela é. Nessa condição, mais cedo ou mais tarde, surge aquela sensação de estranheza e aquela sensação de não ter para onde ir ou de não querer ir a nenhum lugar. A alma não está perdida, mas escondida atrás de defesas e imposturas.

Pegar o caminho de volta em direção a nós mesmos é uma tarefa árdua. O mais comum é que esse desejo nem apareça. De qualquer modo, é necessário saber que é possível empreender essa viagem e aprender a ser. Em geral, isso requer ajuda, mas é possível.

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